A empresa brasileira de gestão de resíduos Ambipar (AMBP3) viu suas ações despencarem mais de 50% em uma sessão em meio a uma onda de desconfiança dos investidores sobre sua situação financeira e disputas judiciais envolvendo dívidas. Essa queda ocorre após a companhia obter uma liminar judicial que suspendeu temporariamente o vencimento antecipado de sua dívida, uma medida emergencial em resposta a pressões de credores, principalmente o Deutsche Bank, que exigia garantias adicionais para empréstimos concedidos.
Queda nas ações e contexto financeiro
Na última sexta-feira, as ações da Ambipar caíram 56,4%, negociadas perto de R$ 1,2 cada, caminhando para sua quarta sessão consecutiva de perdas que somam quase 90% nos últimos trinta dias. No acumulado de 2025, a desvalorização chega a 86%, refletindo a crise de confiança do mercado diante da turbulência financeira da empresa. O índice Bovespa, por sua vez, permaneceu estável nesse período, indicando que a queda foi específica à Ambipar.
O movimento de queda foi impulsionado também pela saída de diretores financeiros e informações conflitantes sobre o caixa da companhia. Enquanto a Ambipar afirmava ter cerca de R$ 4,7 bilhões em caixa, credores e analistas levantaram dúvidas sobre a real liquidez desses recursos, especialmente após reportagens apontarem supostas irregularidades em fundos de investimento (FIDCs) que fariam parte desse montante.
Disputa judicial e estratégias para renegociação
A Ambipar obteve uma tutela cautelar na Justiça do Rio de Janeiro, suspendendo cobranças e execuções por até 30 dias, com possibilidade de prorrogação, numa tentativa de ganhar tempo para negociar com os credores. Neste processo, a empresa tenta impedir chamadas de cláusulas de vencimento antecipado em suas dívidas, que poderiam somar mais de R$ 10 bilhões e significariam um default técnico imediato.
Porém, não há consenso entre os credores, com o Banco Sumitomo questionando a medida e apontando que a empresa teria utilizado contratos específicos para blindar dezenas de suas sociedades da cobrança. Além disso, há uma disputa sobre a jurisdição adequada para o processo, entre o Rio de Janeiro e São Paulo, local onde a maior parte das operações e receitas da holding está situada.
Perspectivas e riscos
A Ambipar contratou a BR Partners para assessorar a reestruturação da dívida, após negociações frustradas com outras consultorias. Especialistas indicam que, apesar dos esforços, a recuperação judicial é provável caso a empresa não consiga um acordo amigável, com o impacto de rebaixamentos nas classificações de crédito já observado, com agências como S&P e Fitch posicionando os ratings em níveis próximos ao default.
Para investidores, o cenário inspira cautela máxima: quem está fora tende a evitar entrar no papel, dado o risco elevado, enquanto acionistas atuais enfrentam a decisão delicada de realizar perdas imediatas ou manter a posição e correr o risco de uma desvalorização ainda maior, até a possível perda total do investimento.







